As neisserias são cocos Gram-negativos, que habitualmente ocorrem em pares. A N. gonorrhoeae (gonococos) e a N. meningitidis (meningococos) são patogênicas para os seres humanos e tipicamente encontradas em associação a células polimorfonucleares ou no seu interior. Algumas neissérias são habitantes normais das vias respiratórias humanas, raramente ou nunca causam doença e são encontradas fora das células.
Os gonococos e os meningococos estão estreitamente relacionados com 70% de homologia do DNA, sendo diferenciados com base em alguns testes laboratoriais e certas características específicas: os meningococos possuem cápsulas de polissacarídio, o que não ocorre com os gonococos, e os meningococos raramente têm plasmídios, enquanto a maioria dos gonococos possui plasmídios. Entretanto, o aspecto mais importante é as duas espécies são diferenciadas pelos quadros clínicos habituais das doenças que provocam: tipicamente, os meningococos que são encontrados nas vias respiratórias superiores e causam meningite, enquanto os gonococos provocam infecções genitais.
Morfologia e Identificação
Microrganismos típicos: a Neisseria típica é um diplococo Gram-Negativo imóvel, com cerca de 0,8 um de diâmetro. Os cocos isolados são reniformes; quando os microrganismos ocorrem aos pares, os lados adjacentes são achatados ou côncavos.
Cultura: depois de 48 h em meios enriquecidos (meio de Mueller-Hinton, meio modificado de Thayer-Martin), os gonococos e meningococos forma colônias mucóides convexas, elevadas e brilhantes, com 1-5 mm de diâmetro. As colônias são transparentes ou opacas, não pigmentadas e não hemolíticas. A N. flavescens, a N. subflava e a N. lactamica exibem pigmentação amarela. A N. sicca produz colônias opacas, quebradiças e enrugadas. A M. catarrhalis forma colônias opacas não-pigmentada ou cinza-rosadas
Características de crescimento: as neissérias crescem melhor em condições aeróbicas, porém algumas crescem em ambiente anaeróbico, tendo exigências complexas para seu crescimento. A maioria desses microrganismos fermenta carboidratos, produzindo ácido, mas não gás, e seus padrões de fermentação de carboidratos proporcionam um meio para distingui-los. As neisserias produzem oxidade e reações positivas para oxidase.
→ Neisseria gonorrhoeae (Gonococos)
Os gonococos só fermentam a glicose e diferem das outras neissérias antigenicamente. Em geral, os gonococos produzem colônicas menores do que as outras neissérias. Os gonococos que necessitam de arginina, hipoxantina e uracil (auxotipo Arg-, Hyx+, Ura+) tendem a crescer mais lentamente na cultura primária.
Estrutura Antigênica
A N. gonorrhoeae é antigenicamente heterogênea e tem a capacidade de modificar suas estruturas de superficie in vitro - e presumivelmente in vivo - para evitar as defesas do hospederio. As estruturas de superficie são as seguintes: Pili, Por, Opa, Rmp, Lipooligossacarídio e outras proteínas.
Genética e heterogeneidade antigênica
Os gonococos desenvolveram mecanismos que frequentemente permitem a mudança de uma forma antigênica (pilina, Opa ou lipopolissacarídio, que são importantes na resposta imunológica à infecção) para outra forma antigênica da mesma molécula. Essa rápida mudança ajuda os gonococos a escaparem do sistema imunológico do hospedeiro.
Patogenia, patologia e manifestações clínicas
Os gonococos exibem vários tipos morfológicos de colônias, porém apenas as bactérias dotadas de pili parecem ser virulentas. Os gonococos que formam colônicas opacas são isoladas de homens com uretrite sintomática e de culturas de amostra do colo uterino de mulheres na metade do ciclo menstrual. Os gonococos que formam colônias transparentes são frequentemente isoladas de homens com infecção uretral assintomática, mulheres durante a menstruação e de formas invasivas de gonorréia, incluuindo salpingite e infecção disseminada. Nas mulheres, o tipo de colônia formado por uma única cepa de gonococo modifica-se durante o ciclo menstrual.
Os gonococos que causam infecção localizada são frequentemente sorossensíveis, porém relativamente resistentes ao antimicrobianos. Em contraste, os gonococos que penetram na corrente sanguínea e provocam infecção disseminada são habitualmente soro-resistentes, mas podem ser muito suscetíveis à penicilina e a outros antimicrobianos.
Exames Laboratoriais
Amostras: são obtidas amostras de pus e secreçõs da uretra, do colo, do reto, da conjuntiva, da garganta ou do líquido sinovial para cultura e esfregaço.
Esfregaços: os esfregaços de exsudato uretral ou endocervical são corados pelo método de Gram, que relevam numerosos diplococos no interior de leucócitos, achado que permite o estabelicimento de um diagnóstico presuntivo.
Cultura: Imediatamente após a coleta, o pus ou muco são semeados em meio seletivo enriquecido (meio modificado de Thayer-Martin) com incubação em atmosfera contendo 5% de CO2, a 37°.
Sorologia: O soro e o líquido genital contêm anticorpos IgG e IgA contra os pili gonocócicos, as proteínas da membrana externa e o LPS. Parte da IgM do soro humano é bactericida para os gonococos in vitro. Nos indivíduos infectados, pode-se detectar a presença de anticorpos dirigidos contra os pili gonocócicos e as proteínas da membrana externa por meio de immunoblotting, radioimunoensaio e ELISA (ensaio de imunoabsorção ligado a enzima).
→ Neisseria Meningitidis (meningococo)
Estrutura Antigênica
Foram identificados pelo menos 13 sorogrupos de meningococos com base na especificidade imunológica dos polissacarídios capsulares. Os sorogrupos mais importantes associados à doença nos seres humanos são A, B, C, Y e W-135. As proteínas da membrana externa dos meningococos foram divididas em clases, com base no seu peso molecular.
Patogenia, patologia e manifestações clínicas
Os seres humanos constituem os únicos hospedeiros naturais em que os meningococos são patogênicos. A nasofaringe é a porta de entrada desses microrganismos, onde eles fixam-se às células epiteliais com o auxílio dos pili. Podem fazer parte da flora transitória, sem causar sintomas. A partir da nasofaringe, os microrganismos podem alcançar a corrente sanguínea, causando bacteriemia; os sintomas podem assemelhar-se aos de uma infecção das vias respiratórias superiores.
A meningococcemia fulmimante é a mais grave, com febre alta e exantema hemorrágico (erupção cutânea que ocorre em consequência de doenças agudas ); podem ocorrer coagulação intravascular disseminada e colapso circulatório (síndrome de Waterhouse-Friderichsen). Durante a meningococcemia, ocorrer trombose de muitos vasos sanguíneos de pequeno calibre em muitos órgãos, com infltração perivascular e hemorragias petequiais.
Exames laboratoriais diagnósticos
Amostras: são obtidas de sangue para cultura, bem como de líquido cefalorraquidiano para esfregaço, cultura e determinações químicas.
Esfregaços: Os esfregaços do sedimento do líquido cefalorraquidiano centrifugado ou do aspirado de petéquias, corados pelo método de Gram, frequentemente revelam a presença de neissérias típicas no interior dos leucócitos polimorfonucleares ou fora das células.
Cultura: Os meios de cultura sem sulfonato sódico de polianetol mostram-se úteis para a cultura de amostras de sangue. As amostras de líquido cefalorraquidiano são semeadas em ágar-sangue aquecido (ágar chocolate) e incubadas a 37°, em atm 5% de CO2. O meio modificado de Thayer-Martin com antibióticos (vancomicina, colistina, anfotericina) favorece o crescimento das neissérias, inibe muitas outras bactérias e é utlizado para culturas de amostras da nasofaringe.
Sorologia: Os anticorpos contra polissacarídios meningocócicos podem ser determinados por testes de aglutinação em látex, hemaglutinação ou pela sua atividade bactericida.
Outras Neissérias
A Neisseria lactamica só raramente provoca doença, porém é importante em virtude de seu crescimento nos meios seletivos ( meio modificado de Thayer-Martin) utilizados para culturas de gonococos e meningococos de amostras clínicas, podendo ser cultivada de amostras da nasofaringe de 3-40% dos indivíduos, sendo mais frequentemente encontrado em crianças. Ao contrário de outras neissérias, a Neisseria lactamica fermenta a lactose.
A Neisseria sicca, a Neisseria subflava, a Neisseria cinera, a Neisseria mucosa e a Neisseria flavescens também são membros da flora normal das vias respiratórias, em particular da nasofaringe, e muito raramente causam doença. Algumas vezes, a Neisseria cinera assemelha-se à Neisseria gonorrhoeae, devido e seus padrões de fermentação de carboidratos.
Fonte: Microbiologia Médica, Brooks, Butel, Morse.
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